sábado, 24 de julho de 2010

Justiça nega pedido de prisão para PMs que liberaram atropelador

Pedido foi negado pelo plantão judiciário do Tribunal de Justiça do Rio.
No entanto, os dois têm 48 horas para se apresentar no batalhão.


Foi negado na manhã deste sábado (24) pelo juiz Alberto Fraga, do plantão judiciário do Tribunal de Justiça do Rio, o pedido de prisão preventiva dos dois policiais militares que liberaram o jovem que confessou ter atropelado Rafael Mascarenhas, na madrugada de terça-feira, no Túnel Acústico, na Gávea, Zona Sul do Rio. A informação foi confirmada pelo plantão judiciário do TJ.
O comandante geral da Polícia Militar do Rio, coronel Mário Sérgio Duarte, havia pedido na noite de sexta-feira (23) a prisão preventiva dos policiais após tomar conhecimento do depoimento de Roberto Bussamra, pai do atropelador. Ele afirmou que os policiais que liberaram seu filho pediram R$ 10 mil de propina.

Os dois policiais atuam no 23º BPM (Leblon). No entanto, os dois policiais ainda são aguardados no batalhão, pois a negativa da prisão preventiva não invalida a prisão administrativa determinada pelo comandante da corporação. Eles têm 48 horas para se apresentar.

Ainda de acordo com a PM, a Corregedoria da Polícia Militar recebeu da Polícia Civil no fim da tarde de sexta-feira uma cópia do depoimento de Roberto.

Ainda de acordo com a PM, será aberto um Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar o caso. Os dois policiais passarão por um conselho de disciplina e deverão ser expulsos da corporação.

Depoimento durou seis horas

O depoimento de Roberto Bussamra na delegacia durou seis horas. Ele contou, ainda, que após a abordagem policial, o grupo parou em um posto de gasolina na Gávea.
Ele foi chamado ao local. Os PMs exigiram R$ 10 mil para liberar os rapazes que atropelaram Rafael. Como não tinha o dinheiro na hora, Roberto Bussamra combinou de pagar a quantia na manhã seguinte, na Praça Mauá, no Centro do Rio de Janeiro.
Ao se encontrar com os policiais, ele  inicalmente pagou mil reais. Mas durante o acerto recebeu um telefonema da mulher. Ela contou que a vítima do atropelamento era filho da atriz Cissa Guimarães - e que e ele havia morrido. Roberto passou mal ao receber a notícia e foi retirado do carro por um dos filhos - enquanto os policiais arrancavam com o dinheiro da propina.
O dono da oficina para onde foi levado o Siena preto do jovem após o acidente diz que por volta de 4h30 o automóvel chegou de reboque. O pai e o irmão do motorista esperaram até 8h, quando a oficina abriu. O lanterneiro disse o pai do jovem pediu pressa no conserto porque precisava trabalhar com o carro.
Em três horas de conserto, o carro chegou a ser desmontado mas não houve tempo para que as peças danificadas fossem trocadas. O dono da oficina contou que, durante o serviço, recebeu um telefonema do pai do atropelador exigindo que parasse com urgência e que depois ele entenderia o porquê e que a perícia buscaria o veículo. O mecânico disse que teria visto vestígios de pele no carro. Depois de ter parado o trabalho, ele ouviu sobre o acidente no noticiário.
Investigação
De acordo com a polícia, nenhum outro depoimento deve acontecer nesta sexta-feira (23) e no fim de semana. Os agentes pretendem usar os próximos dois dias para avançar nas investigações.
A previsão é que os policiais militares que abordaram o carro que atropelou Rafael Mascarenhas sejam chamados a depor na próxima semana, mas a data ainda não foi definida. A polícia informou ainda que dificilmente o inquérito será encerrado na próxima semana. A polícia investiga se eles tentaram ocultar vestígios de acidente no carro que matou o jovem no Túnel Acústico, que liga São Conrado à Gávea, quando ele andava de skate.
Homenagem a Rafael
Rafael Mascarenhas recebeu uma homenagem dos amigos na noite de quinta-feira (22). Skates e rosas brancas foram reunidos em frente ao prédio onde Rafael morava com a mãe, na Gávea.
Uma foto do rapaz num show lembrou a paixão de Rafael pela música. Os dois jovens que andavam de skate junto com ele na madrugada do atropelamento se abraçaram com outros amigos.
PMs têm ficha exemplar
As fichas profissionais do sargento e do cabo da Polícia Militar, que liberaram o motorista que atropelou o músico Rafael Mascarenhas, apontam comportamento excepcional e ótimo durante o tempo em que eles estão na corporação. As informações são da assessoria de relações institucionais da PM.
Os policiais prestaram esclarecimentos à Corregedoria da PM sobre o episódio durante toda a manhã de quinta-feira (22). De acordo com o comandante geral da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio Duarte, os PMs voltaram a confirmar as declarações que constavam no boletim de ocorrência entregue à Polícia Civil. O sargento e o cabo foram afastados dos trabalhos nas ruas.
Carona prestou depoimento na quinta-feira
O estudante André, de 19 anos, que estava no carona do carro do motorista que confessou ter atropelado o músico Rafael Mascarenhas prestou depoimento na quinta-feira (22). Ele não quis falar com a imprensa.
O advogado dele, Paulo Márcio Ennes Klein - que não quis revelar o sobrenome do cliente -, informou que o jovem disse, no depoimento, que Rafael passou de skate, na frente do carro, saindo da direita para a esquerda, dentro do Túnel Acústico.
Segundo Paulo Klein, André negou, no depoimento, que ele e os amigos estivessem fazendo um pega dentro do Túnel Acústico. “Ele diz que o carro não estava correndo, mas que não sabe precisar em que velocidade estava. André contou que o carro chegou a frear antes do atropelamento”, disse o advogado. “Inclusive, o André estava sem o cinto de segurança. Não sou perito, mas acredito que, se o carro estivesse em alta velocidade, com o impacto, o André teria se machucado”, acrescentou.

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