segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Sempre há um risco, diz repórter que estava com cinegrafista morto no Rio

Os dois acompanhavam operação da PM na Favela de Antares no domingo.
Mesmo com colete à prova de balas, cinegrafista morreu ao ser atingido.


O repórter Ernani Alves, que estava com o cinegrafista da TV Bandeirantes Gelson Domigos quando ele foi baleado na Favela de Antares, na Zona Oeste do Rio, no domingo (6), falou sobre a morte do colega durante o velório nesta segunda-feira (7).
“Nesse dia, a gente pegou às 4h para fazer a operação. Na verdade, a informação era que o Bope tinha entrado na favela e que o (Batalhão de) Choque fazia o cerco. Se presume que há uma certa segurança, mas claro que sempre há um risco”, disse Ernani. O cinegrafista usava um colete à prova de balas quando foi atingido.
"Como eu estava deitado no chão, não vi o momento em que ele foi atingido. Jamais queria ter feito essa reportagem. Jamais queria ter passado por isso. Não sei como vou continuar, mas é uma questão de honra. Só vou tirar meu descanso na hora em que o traficante que atirou no Gelson estiver preso e encaminhado pela promotoria para ser condenado”, afirmou.
Ernani afirmou que ele e Gelson eram grandes amigos e que trabalhavam diariamente juntos.
O corpo do cinegrafista foi enterrado por volta das 14h20 desta segunda no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju, na Zona Portuária do Rio, com uma salva de palmas.
O coronel Frederico Caldas, coordenador de comunicação social Polícia Militar, também lamentou a morte do cinegrafista durante o velório. “O Gelson era muito querido pela corporação, tamanha a proximidade dele com a PM nas operações", afirmou.
Segundo o coronel, a operação em Antares foi planejada após informações do setor de inteligência do Batalhão de Choque. “Os PMs adotaram uma conduta de patrulha, de maneira técnica. Não podemos excluir que houve uma fatalidade mas nenhum policial ou morador foi ferido na operação. Os policiais arriscaram suas próprias vidas para socorrê-lo, mas infelizmente não foi possível”, disse ele.
Velório
Familiares, amigos e colegas de profissão fizeram uma oração em homenagem a Gelson Domingos durante o velório.
Filha do jornalista se emocionou no enterro (Foto: Mylene Neno/G1) 
Filha do jornalista se emocionou no enterro
(Foto: Mylene Neno/G1)
“Meu pai foi um herói. Foi mais uma vítima da violência do Rio de Janeiro”, disse a filha do cinegrafista, Lorena Domingos, de 20 anos. Ela contou que o pai gostava muito do trabalho, mas não costumava conversar com os filhos sobre a rotina na televisão.
"Está tudo mundo triste. Meu irmão era muito querido", disse Paulo Domingos no velório. "Meu irmão era trabalhador, honesto, amava o que fazia. É uma profissão de risco, gostaria de pedir que melhorassem os equipamentos, para que outros não venham sentir a mesma dor da nossa família", disse o outro irmão de Gelson, Ricardo Domingos.
"Todo mundo está sofrendo muito com a família, os amigos, companheiros de trabalho na Bandeirantes, da TV Brasil. O que nos cabe é rezar e orar com a família nesse momento tão difícil para todos nós", disse o vice-presidente do Grupo Bandeirantes, Frederico Nogueira.
Corpo de cinegrafista é velado no Rio (Foto: Mylène Neno/G1) 
Colegas de profissão se emocionam no velório do
cinegrafista (Foto: Mylène Neno/G1)
"Por mais protegido que o jornalista esteja, com colete à prova de balas, dependendo da proximidade da arma, a proteção não vai segurar. Esse limite deve ser muito bem avaliado. O tráfico não pode calar a imprensa, ao mesmo tempo que o jornalista não pode ser exposto ao perigo. Já recebemos denúncias de que alguns coletes estavam com prazo de validade vencido", afirmou Rogério Marques, diretor do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro.

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